domingo, 24 de abril de 2011

CLASSES FREINET E A SOLIDARIEDADE ESSENCIAL



                          Rosa Maria Whitaker Sampaio
                            Revisão: Flávio Boleiz Júnior 

Célestin Freinet, educador Francês (1896 - 1966),  percebeu que somente a transmissão de conselhos técnicos corria o risco de ser insuficiente para se praticar a Pedagogia Freinet, se estes não fossem acompanhados de instruções mais exatas. Por isso ele organizou uma série de princípios que chamou de INVARIANTES PEDAGÓGICAS, são princípios que não variam seja qual for o povo que o aplica. Ele queria, assim, estabelecer uma nova gama de valores escolares, numa busca da verdade, que deveria ser feita à luz da experiência e do bom senso.
Freinet apresentou um teste para ser respondido pelo professor, de modo que este pudesse ter um parâmetro para sua prática pedagógica, percebendo a sua evolução sempre que repetisse o teste ao longo do ano escolar.


As três primeiras Invariantes da Pedagogia Freinet são sobre a natureza da criança.



Invariante nº1: A CRIANÇA E O ADULTO TÊM A MESMA NATUREZA.
"A criança é como uma árvore que, ainda não tendo terminado seu crescimento, se nutre, cresce e se defende exatamente como a árvore adulta."


Teste 


"Você tem se esforçado para aceitar esta Invariante." < sinal verde>
"Você reconhece esta Invariante, mas fica hesitante em colocá-la em prática."  <sinal amarelo> 

"No seu comportamento , você considera e age como se a criança tivesse natureza diferente da sua." < sinal vermelho>


Uma criança fica triste, chora , fica alegre, se espanta, se interessa, como um ser adulto. Não se pode esquecer disso em nenhum momento. O seu coração é igual ao nosso. É preciso  sempre  lembrar-se desse detalhe e tentar compreender a criança antes de julgá-la ou agir.


Invariante nº2: SER MAIOR NÃO SIGNIFICA NECESSARIAMENTE ESTAR ACIMA DOS OUTROS. Suprima o pedestal de professor, de repente você estará ao nível das crianças. Você as verá não com olhos de pedagogos e chefes, mas com olhos de homens e crianças, e com este ato você reduzirá seguidamente a perigosa separação que existe na escola tradicional."



Teste:



"Você se  coloca numa carteira igual à dos alunos e age no meio deles, assumindo todas as consequências pedagógicas que esse gesto pode causar." < sinal verde>

"Você suprime a disposição tradicional da classe que o destaca perante os alunos." <sinal amarelo>
"Você deixa as carteiras dos alunos e a sua mesa nas posições tradicionais."  <sinal vermelho>". 


Os meninos e meninas também devem pensar e agir como amigos, lembrando que,  ninguém está acima dos outros só porque é maior ou porque sabe um pouco mais. Cada  classe deve, sempre numa atitude  de solidariedade mútua,  ter momentos organizados  para conhecerem-se bem todos os colegas e passar o que sabem e o que podem aos  que  estão precisando de ajuda.


Invariante nº 3: O COMPORTAMENTO ESCOLAR DE UMA CRIANÇA DEPENDE DE SEU ESTADO FISIOLÓGICO E ORGÂNICO, DE TODA  A SUA CONSTITUIÇÃO. Em face às deficiências de comportamento que se  possa observar, consulte as crianças para saber se não existirão motivos de saúde, de equilíbrio, de dificuldades ambientais, que seria necessário examinar em primeiro lugar.


Teste: 


"Você tem conseguido descobrir razões sociais ou psicológicas para o comportamento perturbado de algumas crianças." <sinal verde>
"Você se interessa, mas não tem conseguido descobrir essas razões." <sinal amarelo>
"Você não leva em conta as dificuldades individuais de seus alunos." <sinal vermelho>

Na Pedagogia Freinet considera-se que uma classe de até 25 alunos é a mais importante   condição  para que tudo isso aconteça. Impor uma classe com mais de 25 alunos é sempre um desrespeito aos professores e aos alunos, que absolutamente não vão conseguir aprender e aos professores que não terão as condições mínimas para ensinar.


Experimentem fazer seus testes e depois  eu os convido a conhecer as outras invariantes da Pedagogia Freinet.
São 9 sobre as reações da criança, e 20 sobre as técnicas educativas, as técnicas de vida.

As Invariantes Pedagógicas de Freinet podem ser encontradas nos livros:

CABRAL, Maria Inez Cavalieri. De Rousseau a Freinet: Da teoria à prática. São Paulo: Hemus, 1978.

SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker. Freinet: Histórico e atualidades. São Paulo: Scipione, 1989.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Reflexões em torno da loucura de psicopatas assassinos

Flávio Boleis Júnior — Educador
08 de abril de 2011

     A escola é um lugar muito chato, inadequado e incrivelmente ultrapassado.

     O pior é que os indicadores de "qualidade" cada vez mais aceitos pela nossa sociedade vão ao encontro de uma escola emburrecedora, ao invés de propugnar um ambiente educador de verdade, onde a vida e a alegria de viver estejam presentes! Analisa-se a qualidade de uma escola pelos ranques de avaliação externa (saresp, saeb, enem, enade, pisa e outras tranqueiras mais), que são a perfeita louvação dos valores da "ética" capitalista, da competição — no lugar da cooperação —, da decoreba — no lugar da reflexão —, dos manuais escolares — agora travestidos de apostilas de "Anglo", "Etapa", "Positivo", "COC" e outras porcarias do tipo —, ao invés do trabalho transformador do mundo e da própria natureza humana no ambiente escolar.

     A Pedagogia da Escola Moderna (juntamente com algumas outras pedagogias libertadoras, democráticas e que respeitem os interesses reais da infância) oferece grande esperança de formação de sujeitos ativos, autônomos e responsáveis, verdadeiros cidadãos, homens e mulheres de bem; enfim, pessoas felizes!

     Nossa luta por uma Educação de verdade, com "E" e não com "e", é grande. Talvez precisássemos rever nossa ação na sociedade, nossas iniciativas de estudos entre docentes e educadores, nossos encontros, participações em congressos e fóruns de aprofundamento pedagógico. Precisamos ser mais ativos, mais propositores e divulgadores dessa pedagogia transformadora!

     Iniciativas como a da Escola Lellis do Amaral Campos, em Bebedouro (da diretora Carminha) com uma sala de aulas sem carteiras (que está dando excelente resultado); da Paidós, no México (da diretora Teresita), com seu replantio de árvores em conexão entre escola e comunidade; da Curumim em Campinas (da diretora Glaucia) com suas iniciativas amplamente participativas para as crianças desde a Educação Infantil na organização do tempo e espaço escolar; do Colégio Notre Dame, em Teresina (da diretora Waldília), com a assunção dos valores da Carta da Terra em atividades práticas e cotidianas; da Oca dos Curumins (da diretora Fátima), da Escola Cândido Portinari (Da diretora Magali) que trabalha a Pedagogia da Escola Moderna da Educação Infantil ao Ensino Médio e de tantas outras escolas que conhecemos, em que trabalhamos ou já visitamos, precisam ser mais conhecidas pelos educadores pelo mundo a fora! E a responsabilidade da divulgação, da propagação das ideias e dos ideais da Escola Moderna é inteiramente nossa! Ou tomamos as rédeas da transformação que queremos realizar, ou ficamos "a ver navios".

     Precisamos "derrubar a escola que temos para fazermos outra escola", como defendia Pistrak em seu livro "Fundamentos da Escola do Trabalho", que tanto influenciou Freinet!

     De resto, loucos, psicopatas, doentes mentais sempre haverá, em todas as sociedades! É claro que não podemos nos conformar com um massacre como o que acaba de ocorrer no Bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, mas nunca teremos como prever os atos perversos de pessoas doentes que sequer são donas de sua própria razão. Se realizarmos um bom trabalho, uma pedagogia do bom senso, uma boa educação, pode ser que auxiliemos a evitar que algumas pessoas mentalmente sãs adoeçam!

     Mas se pudermos, pelo menos, minimizar os traumas que a escola emburrecedora tem imposto aos sujeitos de nosso tempo, já estaremos trabalhando numa causa maravilhosa!

     Mãos à obra!